Exame de pele ou sangue não deve procurar alergias, alertam médicos


Teste cutâneo ou laboratorial deve servir apenas para confirmar suspeitas.
Resultado precisa ser avaliado junto com sintomas e histórico do paciente.


Em artigo publicado na edição de janeiro de 2012 da revista científica "Pediatrics", dois alergistas americanos fazem um alerta sobre testes de pele ou sangue para identificar eventuais alergias.

Segundo Robert Wood, do Centro Infantil do Hospital Johns Hopkins, em Maryland, e Scott Sicherer, do Hospital Mount Sinai, em Nova York, esse tipo de exame deve ser solicitado por um médico apenas para confirmar uma suspeita prévia, e não para buscar alergias em pacientes sem sintomas.

Os especialistas também dizem que a coleta de sangue e a avaliação cutânea (prick test) – que se popularizou por ser fácil, indolor e com baixa incidência de reações adversas – não devem ser usados como única forma de diagnóstico.

Isso porque os resultados dos testes precisam ser interpretados no contexto dos sintomas e do histórico médico do paciente. Se há suspeita de alergia alimentar, os médicos recomendam que a pessoa passe por um desafio que envolva o consumo de pequenas doses do alérgeno em questão, sempre sob supervisão de um profissional.

Ao contrário dos testes alimentares, que medem uma reação alérgica real, exames de pele e sangue detectam a presença de anticorpos IgE, substâncias químicas do sistema imunológico que respondem aos alérgenos.

Esses dois exames, portanto, podem dizer se alguém é sensível a uma determinada substância, mas não prever com segurança se um paciente terá uma verdadeira reação alérgica e quão grave ela será, explicam os cientistas.

Além disso, muitos indivíduos que têm testes cutâneos positivos ou um nível elevado de anticorpos IgE não apresentam alergias. Trabalhos anteriores já constataram que até 8% das crianças têm exame cutâneo ou sanguíneo positivo para alergia a amendoim, mas apenas 1% delas desenvolve sintomas clínicos ao entrar em contato com a substância. Na contramão, pacientes com resultados negativos também podem ter alergias.

Problemas no diagnóstico
Esse excesso de exames, de acordo com os autores, pode levar a diagnósticos errados e a restrições alimentares ou ambientais desnecessárias, como a proibição de animais de estimação em casa.
Outra advertência dos pesquisadores é que é necessário ter cuidado ao comparar resultados de diferentes testes e laboratórios, já que análises comerciais variam em sensibilidade e interpretações.
Quase 3% dos americanos adultos (7,5 milhões de pessoas) e pelo menos 6% das crianças no país têm pelo menos uma alergia alimentar, de acordo com as últimas estimativas do Instituto Nacional de Saúde dos EUA.

Segundo os cientistas, exames de pele e sangue podem e devem ser usados para:
• Confirmar uma suspeita de alergia após observadas reações clínicas sugestivas. Por exemplo, crianças com asma moderada a grave devem ser testadas para pólen, mofo, pelos de animais, baratas, ratos e ácaros
• Monitorar a evolução de alergias alimentares estabelecidas por testes periódicos. Medir os níveis de anticorpos pode determinar se alguém ainda é alérgico ou não
• Confirmar alergia a veneno de insetos após uma picada que cause choque anafilático – reação alérgica com risco de vida, em que há dificuldade para respirar, tontura e urticária
• Determinar alergias a vacinas (apenas por testes cutâneos)
Por outro lado, testes de pele e sangue não deve ser indicados:
• Para procurar alergias em crianças e adultos sem sintomas
• Em crianças com histórico de reações alérgicas a alimentos específicos. Nesse caso, o teste não acrescenta valor diagnóstico
• Para testar alergia a medicamentos. Geralmente, os exames de sangue e pele não detectam anticorpos aos remédios

Fonte: Do G1, em São Paulo

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